Com medo do referendo, elite venezuelana provoca desabastecimento


No ano passado, quando houve eleições regionais, os consumidores também enfrentaram desbastecimento antes do pleito e tiveram dificuldade para encontrar açúcar e café. Já no referendo de 2007, quando os venezuelanos disseram não à ampla reforma constitucional, houve uma aguda crise de desabastecimento de leite. Dois dias depois do pleito, o produto reapareceu nas prateleiras, em grandes quantidades.


A falta de produtos de primeira necessidade serve de argumento para que chavistas e oposicionistas ao governo federal acusem uns aos outros. Chefe de compras de um supermercado de um bairro de classe média alta de Caracas, Wilmer Florian disse à BBC Brasil que os fornecedores deixaram de entregar os principais produtos, alegando que a escassez ocorre devido à falta de matéria-prima.


Para Florian, no entanto, o problema é provocado por razões políticas. "O governo tem controlado mais os empresários, obrigando a regulação dos preços, coisa que não existia antes. E eles respondem assim para pressionar o governo, para que os consumidores sintam essa sensação de caos", afirmou.


O próprio presidente da Confederação de Industriais, Eduardo Gómez Sigala, diz que a escassez é fruto do "excesso de controle do governo", tanto na regulação dos preços como no acesso às divisas para a importação dos produtos. “O problema político é do governo, não tem nada a ver com eleições", afirmou Sigala, em referência ao controle de câmbio que desde 2003 permite ao Estado regular todas as atividades comerciais com moedas estrangeiras.


Para Alfonso Benitez, morador de um dos bairros onde vive a maioria dos opositores do presidente Chávez, o desabastecimento é fruto da incerteza quanto ao resultado da consulta. “Já não tem muito [produto] e o pessoal vem e enche os carrinhos, estoca mesmo, com medo de que alguma coisa possa sair mal nas eleições."


Ainda de acordo com a BBC Brasil, o desabastecimento atinge todos os grandes supermercados da capital, cujas redes de abastecimento não passam pelo controle governamental. Enquanto isso, nos mercados populares subsidiados pelo governo e localizados principalmente em bairros periféricos, a situação é outra. Mesmo vendendo alimentos com até 70% de desconto, não há escassez nesses estabelecimentos, segundo a BBC Brasil.


Dependente da exportação do petróleo, a Venezuela importa cerca de 70% dos alimentos que consome. Os mercados do governo, por exemplo, são abastecidos com importações provenientes principalmente do Brasil e da Colômbia.




"Aqui tem de tudo, o que falta às vezes é dinheiro", afirmou, em tom bem-humorado, o motoboy Jitson Huerta, morador do Bairro de La Vega.


Para Alejandro Uzcátegui, presidente da Federação Empresários pela Venezuela, grupo próximo ao governo federal, o problema é “fundamentalmente eleitoral”. “Trata-se de uma estratégia desestabilizadora. Esses empresários [que se opõem a Chávez] pretendem afetar o resultado das eleições do domingo, assim como tentaram fazer no ano passado com as eleições regionais", afirmou Uzcátegui.


Chávez: convicção na vitória


Neste sábado, Chávez se mostrou convicto de uma vitória histórica no referendo e assegurou que seus opositores têm medo do avanço de seu governo e basearam sua campanha em mentiras sobre sua pessoa.


"Tenho uma fé enorme em relação ao resultado de domingo. No triunfo do povo, da Constituição. Eu me envolvi nessa campanha, nas ruas, no comando do exército popular. Minha certeza na vitória é infinitamente maior do que em 1o. de dezembro de 2007", assegurou o presidente falando à imprensa estrangeira e se referindo à derrota que sofreu naquele ano em um referendo sobre uma ampla reforma da Constituição, que também incluía o mandato presidencial sem limite de mandatos.


O presidente assegura basear seu otimismo no "júbilo" que sentiu entre os cidadãos e em diversas pesquisas de opinião. Segundo os últimos datos consultados pela AFP, o "sim" à emenda registra uma leve vantagem, mas ainda há uma boa porcentagem de indecisos.


Chávez afirmou que se a emenda constitucional for aprovada, ele terá "a perspectiva aberta até além de 2013", quando poderá iniciar um terceiro mandato de seis anos, algo que, neste momento, não é autorizado pela Carta Magna.


"Esta emenda dará ao governo mais força para o que estamos fazendo, mais perspectiva. Diminuirá as incertezas políticas e isso não é o que a oposição quer: eles querem manter o país numa incerteza", acusa.


Ele denunciou a campanha da oposição, que "é má perdedora", e se lançou numa campanha de mentiras a seu respeito.


"Criaram um Chávez que não sou eu. Um Chávez assassino, antissemita, tirano, louco. Esse não sou eu. Também há uma revolução boliviana real e outra que eles criaram, que apoia a guerrilha, o narcotráfico", denunciou.


Segundo Chávez, seus adversários políticos, com seus "apoios externos", querem minimizar o impacto da revolução bolivariana e prejudicá-la através de uma rejeição à emenda.


"Dez anos não é nada. Não sei por que se queixam", afirmou, referindo-se a sua primeira década no poder e citando como exemplos de dirigentes que ficaram muito tempo em seus cargos o ex-chefe de Governo espanhol, Felipe González, ou os presidentes franceses Jacques Chirac e François Miterrand.


"Lá não dizem nada. Só aqui na Venezuela que isso é uma ditadura", ironizou.


O presidente refutou as críticas nacionais e internacionais que o reprovam por seu desejo de continuar no poder e citou mensagens de apoio que recebeu de seu pai espiritual, o líder cubano Fidel Castro, do ex-presidente argentino, Néstor Kirchner, e do presidente boliviano Evo Morales.


"Esta é uma pequena emenda, mas com grandes repercussões positivas, não apenas neste país. Este debate rasgou o véu da hipocresia na Venezuela", declarou.


Chávez insistiu que o "desespero" da oposição pode fazer com que "o triunfo do povo neste domingo seja desconhecido".


"Estão se preparando para lançar, atrás de um grito de fraude, qualquer plano violento. Eu denuncio isso ante o mundo e recomendo que não se atrevam a fazê-lo porque estamos prontos para neutralizá-los", advertiu, embora tenha se declarado disposto a aceitar um resultado adverso.

Fonte: Vermelho


0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui sua opinião, participe desse debate.