"É importante afirmar o sucesso que foi o projeto do Relançamento da UJS [realizado em 96]. Só nos tornamos o que somos por conta da vitória desse projeto. Agora é preciso avançar, precisamos de um novo impulso, encarar novos desafios. A nova fase busca uma UJS de milhões", disse Marcelo Brito da Silva, o Gavião, presidente nacional da União da Juventude Socialista (UJS) em entrevista ao Vermelho.
Além de esclarecer as características da nova fase que o 14º Congresso inaugura para UJS, a liderança também comentou suas reivindicações para as eleições municipais de 2008.
"Durante essa campanha devemos combater a apatia. Devemos visitar milhares de salas de aula, construir várias manifestações e ganhar muitos jovens pra atuar de maneira mais firme e consciente na vida política do país", disse Gavião.
Uma das novidades que devem permear o debate do próximo congresso - a se realizar de 29 de maio a 1º de junho na capital paulista – será a proposta de maior autonomia para as frentes de atuação da entidade e a divisão do acompanhamento do movimento estudantil (ME) em universitário e secundarista.
A recém fundada Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) foi um dos temas da entrevista. Segundo Gavião, a UJS optou por atuar na CTB porque a central "se propõe, junto com a juventude, a renovar o sindicalismo no Brasil". A UJS também está comprometida com a campanha pela redução da jornada de trabalho.
Para Gavião, o maior desafio do 14º Congresso, será superar a mobilização do 13º, que filiou 80 mil jovens.
"Uma UJS robusta tem que entender a importância de diversificar, de explorar mais o ME, de cuidar mais da nossa ação na ponta. Estamos na reta final do congresso e já dá para falar que esse será o maior congresso da história da UJS", afirma.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Como você avalia a contribuição da UJS para o Brasil e para a juventude nos últimos dois anos?
Gavião - A UJS tem dado uma grande contribuição à luta política pela construção de um Brasil mais justo e soberano. No último período isso só se fortaleceu, vide as passeatas estudantis, as lutas e campanhas desenvolvidas por várias frentes. A UJS também jogou grande papel protagonizando o 16 de agosto que entrou pra história como um ato decisivo pra garantir a continuidade do mandato do presidente Lula e depois na grande campanha pela reeleição em 2006.
O 14º Congresso tem como lema "Se o presente é de luta, o futuro nos pertence". Qual é o seu significado?
Gavião - Esse lema tem dois objetivos. O primeiro esta relacionado à necessidade de ganhar cada vez mais a juventude para a idéia de que as mudanças que queremos, sejam elas profundas ou não, só ocorrem se nosso comportamento no presente for outro. Queremos com esse congresso ampliar a participação política da juventude, intensificar as lutas por educação de qualidade, por emprego pra juventude, contra a violência... e, assim, sermos donos da construção de nosso futuro. O segundo objetivo tem ha ver com uma homenagem a Che Guevara, que esse ano completa 80 anos do seu nascimento e 40 anos de sua morte em combate. O Che é um símbolo importante da luta juvenil pela transformação. A UJS tem orgulho de manter erguida bem alta as idéias desse grande líder revolucionário.
A tese do 14º Congresso defende que a fase do Relançamento da UJS (inaugurada em 1996) terminou e que a organização vive um novo momento. Quais são as características mais evidentes desse "novo ciclo"?
Gavião – Primeiro é importante afirmar o sucesso que foi o projeto do Relançamento da UJS, só nos tornamos essa força viva na sociedade hoje por conta da vitória desse projeto. A construção de uma nova fase se dá justamente por uma percepção de que nossa organização precisa de um novo impulso, precisa encarar novos desafios. Precisamos nessa nova fase consolidar a UJS enquanto uma organização massiva e cada vez mais influente na sociedade. Para um novo tempo é preciso uma UJS renovada.
Além da campanha pelo voto aos 16, uma conquista da UJS, a tese também defende que o centro da plataforma eleitoral da juventude socialista nas eleições municipais de 2008 deve ser a conquista por mais espaços institucionais para o desenvolvimento de políticas públicas para a juventude (PPJs). Para além destes espaços, qual será a principal reivindicação da UJS em PPJs?
Gavião – Mesmo com aumento na oferta de empregos no Brasil durante o governo Lula, esse ainda continua como um dos principais problemas juvenis. Esse ano as eleições são municipais e tratam de questões mais locais. Contudo, queremos debater com vários candidatos a prefeito e vereador a construção de espaços que tratem de maneira cuidadosa das especificidades da juventude, como a constituição de conselhos, secretarias e ou coordenadorias de juventude. Dessa maneira pretendemos envolver e responsabilizar os poderes públicos em todos os seus níveis pra que enfrentem o desemprego juvenil ouvindo mais a juventude. Uma das bandeiras que levantaremos será a da redução da jornada de trabalho sem redução de salários.
Dentre as iniciativas promovidas pelo governo Lula para a juventude qual você considera mais bem e menos bem sucedida?
Gavião – Falar qual foi a melhor não é fácil, todas elas tem seu sentido e seu grau de importância. Poderia citar a Conferência Nacional de Juventude que é um grande espaço de participação que tem possibilitado uma grande mobilização por todo o país, ou ainda o ProUni, que significou um grande avanço na luta pelo acesso ao ensino superior. São todas muito positivas e dignas do apoio de nossa militância. A parte negativa fica pelo resultado final do Projeto do Primeiro Emprego pra Juventude, esse se revelou um fiasco. Vale à pena lembrar que nós da UJS já no seu lançamento ponderávamos sobre a eficácia deste projeto. Esse é um problema ainda sem resposta adequada do governo.
A tese orienta que o primeiro passo da juventude socialista nessas eleições "será combater a apatia e a despolitização impostas pelas idéias reacionárias". Como a UJS pretende enfrentar essa apatia?
Gavião – A UJS é uma organização que nasceu pra travar essa batalha de idéias e durante a campanha eleitoral isso aparece com muita força. Tem sempre uma tentativa das idéias dominantes de desqualificar ou diminuir o potencial transformador que tem a juventude. Falam que política é sinônimo de corrupção, que não temos que nos meter com ela. Mas, enquanto isso, tratam de apoderar-se dela e manipular pra se perpetuar no poder. Durante essa campanha devemos combater essas idéias. As formas são as mais diversas: devemos visitar milhares de salas de aula, construir várias manifestações e assim ganhar muitos jovens pra atuar de maneira mais firme e consciente na vida política do país.
Na virada do século percebemos que a juventude prefere se organizar em coletivos, comunidades, grupos ambientais, culturais, esportivos e do Terceiro Setor a se organizar em entidades estudantis, comunitárias, sindicais e nos partidos. Como a UJS tem se relacionado com estas e outras formas de organização?
Gavião – Valorizamos as mais variadas formas de participação. Nossas frentes e áreas de atuação têm se relacionado bastante com todas elas. Mais do que isso e a partir dessa relação, temos filiado muitos jovens ligados a ONG's. Dessa forma buscamos elevar o poder de intervenção desses jovens.
Entre os movimentos em que a UJS tem maior tradição está o movimento estudantil. Quais são as novidades que estão em debate para esta frente no 14º Congresso?
Gavião – Nesse congresso estamos fazendo um grande debate sobre a necessidade de fortalecer a ação da UJS nas suas mais diversas frentes e, para isso, apresentamos a proposta da autonomia. Com autonomia, queremos fazer com que as frentes tenham a funcionabilidade que hoje vemos no movimento estudantil. As direções da UJS devem definir a política e ajudar na execução, mas a forma deve ser de responsabilidade dos atores de cada frente. No ME o desafio é superar nosso atual estágio e para isso estamos propondo medidas que reforcem essa frente. Uma delas é a divisão no acompanhamento do ME secundarista e universitário. Com isso buscamos elevar a qualidade de nosso trabalho e fortalecer nosso principal veio de ligação com a juventude.
Ano passado os jovens trabalhadores que atuam na UJS decidiram sair da CUT e atuar na Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). O que motivou essa decisão e qual é a perspectiva da UJS na CTB?
Gavião – O que levou os jovens que militam na UJS e na CSC a apoiar a fundação de uma nova central foi á necessidade de construir uma forma renovada de fazer sidicalismo. Temos hoje em nosso país uma estrutura pouco participativa e até burocratizada nesse movimento. A CTB se propõe, junto com a juventude, a mudar essa realidade.
Hoje a UJS atua em 15 diferentes movimentos juvenis, está presente em 700 cidades e nos 27 estados com cerca de 100 mil filiados. Qual é a perspectiva organizativa da entidade nesse 14º Congresso?
Gavião – A atual geração de jovens dirigentes da UJS tem nesse congresso uma grande responsabilidade que é a de manter o ritmo de crescimento. No último congresso chegamos a filiar cerca de 80 mil jovens, e todo esse esforço fez com que as direções estaduais fossem bem ousadas nesse 14º congresso, entendendo o desafio que temos a nossa frente. Queremos consolidar uma UJS massiva e pra isso temos que fortalecer as direções, multiplicar e estruturar melhor os núcleos, consolidar a diversificação. Uma UJS robusta tem que ser uma UJS que entenda a importância de diversificar, de explorar mais o ME, de cuidar mais da nossa ação na ponta. Estamos na reta final do congresso e já dá para falar que esse será o maior congresso da história da UJS.
Fonte: Portal Vermelho
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe aqui sua opinião, participe desse debate.