O deputado Moisés Diniz (PCdoB), líder do governo na Assembléia Legislativa, dedicou uma boa parte do seu tempo a percorrer os seringais e aldeias indígenas do Acre, especialmente de sua região, Tarauacá e Jordão. “Eu subia os rios como militante socialista. Não estava presente ainda a variável eleitoral. Isso me deu condições de perceber o jeito verdadeiro de viver que aquelas pessoas escolheram”.
Ouvir as necessidades de cada lugar e compartilhar as alegrias dos povos dos seringais e das aldeias indígenas. Foi esse tempo largo de convivência com a simplicidade e a inocência que fez Moisés Diniz defender um novo modelo de desenvolvimento, onde o homem seja superior à riqueza que ele produz.
O parlamentar do PCdoB acredita que é na Amazônia que estão as condições para o alvorecer de um novo jeito de viver e de se relacionar com o semelhante e com a natureza. “O modelo capitalista ocidental de viver está falido, produziu exclusão social e política, envenenou o planeta e matou a solidariedade entre os homens.”
O parlamentar diz que no Acre e em outras regiões da Amazônia há municípios aonde a barbárie da civilização ainda não chegou com força, como nas grandes cidades. “Nós não podemos permitir que essa doença contamine lugares como Jordão”.
Leia trechos da entrevista.
Deputado, por que essa veemência em condenar a reportagem do Fantástico sobre o município de Jordão?
Porque a reportagem levou o assunto para o terreno do fantástico, do grotesco, sugere que os ‘jordanenses’ devam viver como vivem os cariocas, entre uma bala perdida e outra e afirma uma aberração: “Jordão é o segundo pior lugar para se viver no Brasil”.
O IDH de Jordão está errado?
Em 2003, seis anos antes dessa reportagem do Fantástico, eu concedi uma entrevista onde contestava os critérios do IDH e propunha algumas saídas. Não fui ouvido. A maioria dos políticos do Acre achou que era romantismo de minha parte e agora está pagando o preço do vexame desnecessário. Esses índices são falsos, mas agora ficou mais difícil de consertar.
Falsos?
Basta você acessar a longa lista dos 5.512 municípios brasileiros analisados e vai descobrir que o IDH serve apenas para aferir um jeito de viver, um modelo de sociedade. Se o IDH resolvesse aferir a qualidade de vida dos povos indígenas ia ser um vexame: os índios não querem viver como a gente. Imagine ainda o IDH, adotado pela ONU, aferindo a qualidade de vida dos cubanos. Seria um ‘Deus nos acuda’ medir a solidariedade socialista.
Onde está a principal divergência?
Está no fato de Jordão ser o penúltimo lugar no IDH (5.511ª posição) e aparecer, em expectativa de vida, na frente de mais de 2.300 municípios brasileiros. Que negócio é esse? Você não quer viver mais? Por que o Fantástico não mostrou isso? Por que alguns se comportam de forma tão ingênua e subserviente ao pensamento da grande mídia?
Quer dizer que a expectativa de vida de Jordão é alta?
Sim. Enquanto o IDH-Renda é de 0.364, o IDH-Educação é de 0.425 e o IDH geral é de 0.475, o IDH-Longevidade é de 0.637. Veja o que foi escondido pelo Fantástico. Enquanto o IDH de Jordão é de 0.475, o IDH-Longevidade, que mede a expectativa de vida de lá, salta para 0.637, deixando na poeira mais de dois mil municípios brasileiros.
Então, o senhor quer discutir o que significa qualidade de vida.
Eu posso dizer que é melhor viver na floresta, sem a poluição e a violência das grandes cidades e você pode discordar. Você pode preferir andar de ônibus e dormir assustado, com medo dos traficantes. Agora, nós dois não podemos contestar que o que mede a qualidade de vida é exatamente o tempo que nós vamos viver, como média geral de longevidade de uma população.
E Jordão vive mais
Exatamente, Jordão tem uma expectativa de vida melhor do que centenas de municípios onde o IDH é maior. Os dados do IDH estão dizendo que uma determinada população pode viver mais, mesmo que a sua renda e a sua educação não sejam satisfatórias. Isso é o que mostra o IDH quando faz a aferição da qualidade de vida nas regiões florestais. O Jordão entrou na agenda dos sociólogos.
O senhor tem alguma explicação?
O homem rural e indígena não compra os produtos que colhe na floresta e nos rios e o custo da sua produção agrícola é menor do que o preço final, caso ele comprasse no mercado. Ele planta o que come, por isso que o IDH-Renda é uma nulidade por lá. Só funciona na cabeça dos assalariados da cidade, que em breve comprarão até o ar puro que respiram. Acho que lá a vida é menos perversa.
Como assim?
Imagine que o IDH ignora o consumo de drogas por filhos adolescentes de uma família abastada ou se o pai deles bate na esposa toda semana, enquanto a “qualidade de vida” dessas mesmas famílias fazem o IDH crescer. Esse mesmo IDH não mede a violência das ruas, o tráfico de drogas, a prostituição infantil, o trânsito louco e assassino, a poluição e o estresse da alucinante vida urbana.
Por que há pessoas dando razão ao Fantástico?
Porque enxergaram apenas o factóide e esqueceram de olhar para além da fantasia da notícia. Jordão tem problemas como qualquer município amazônico, mas a sua expectativa de vida é maior do que centenas de lugares servidos por infra-estrutura urbana. Sem contar que esse IDH é de 2000, portanto, ultrapassado em relação ao que tem hoje no Jordão.
O senhor acha que houve injustiça?
A Rede Globo fez uma senhora ‘sacanagem’ com o Acre. Usou um IDH com validade vencida e não mostrou as outras variáveis da vida por lá, como, por exemplo, viver sem o uso permanente de dinheiro nas áreas rurais. Em 2000, data da última aferição do IDH, a Frente Popular estava com menos de dois anos no governo. Quando sair o novo IDH em 2010 (mesmo com essas deficiências conceituais), o Jordão vai dar um banho em centenas de municípios.
Fonte: Deputado Estadual Moisés Diniz
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UJS - ACRE
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