Cuba chama América Latina a festejar os 50 anos da Revolução
SÃO PAULO (Reuters) - Ernesto 'Che' Guevara é uma figura tão emblemática do século 20, que a sua imagem -- aquela baseada numa foto famosa de Alberto Korda, tirada na década de 1960 -- transcende a sua ideologia. Na verdade, a idéia que as pessoas fazem do guerrilheiro vem se mostrando tão maleável que seu culto se adapta a qualquer grupo, desde políticos chineses a neonazistas alemães.
O documentário "Personal Che", que estréia em São Paulo e Rio, investiga pelo mundo a fora as diversas representações e leituras que são feitas sobre o guerrilheiro -- enfim, é a busca pelo mito de cada um.
"Todo mundo pode interpretá-lo como quiser", afirma, no começo do filme, John Lee Anderson, biógrafo do guerrilheiro argentino, autor de "Che Guevara: Uma Biografia".
Cuba está preparando uma grande festa para celebrar os 50 anos de sua Revolução, em 1º de janeiro de 2009. O secretário-geral do Partido Comunista Cubano, Fernando Remírez de Estenoz, convidou todas as forças progressistas do continente a participar das comemorações, além de formar parte do Encontro de Partidos e Movimentos Políticos da América Latina e Caribe por motivo do 50º aniversário da Revolução Cubana, a ser realizado nos primeiros dias do ano que vem.
O convite foi feito por Remírez na abertura do 14º Encontro do Foro de São Paulo, realizado no fim de maio em Montevidéu, Uruguai. "Como parte do esforço comum para incrementar, ampliar e intensificar a imprescindível coordenação e trabalho conjunto das forças de esquerda do continente, nosso partido decidiu convocar para o mês de janeiro do próximo ano esse encontro", disse.
A idéia do PC de Cuba é trocar informações sobre o que vem sendo feito no país e no continente para combater as desigualdades e desenvolver cada uma das nações latino-americanas. "será também um excelente cenário para refletir e expor critérios sobre quanto e como o mundo, a América Latina e o Caribe mudaram desde 1º de janeiro de 1959, e sobre as conquistas e feitos comuns que hoje temos como esquerda latino-americana e caribenha", afirmou.
Confira abaixo a íntegra do discurso de Remírez:
Companheiras e Companheiros,
Que nossas primeiras palavras sejam de agradecimento aos companheiros da Frente Ampla pela organização desta reunião.
Este Foro se realiza em um Uruguai diferente graças à histórica vitória da Frente Ampla e a posse do Companheiro Tabaré Vasquez na Presidência.
A Revolução Cubana sempre contou com o apoio e a amizade do povo uruguaio e especialmente da Frente Ampla. Hoje reiteramos nossa saudação revolucionária e nossa solidariedade no enfrentamento dos importantes desafios que têm pela frente.
Entre os dias 2 a 4 de julho se completam 18 anos da celebração do Encontro de Partidos e Organizações Políticas da América Latina e Caribe, que deu origem ao nosso Foro de São Paulo, uma das primeiras respostas políticas surgidas na contra-corrente da implantação da chamada nova ordem mundial. Isso ocorreu seis meses depois da queda de muro de Berlim e um ano e meio antes do desaparecimento da União Soviética, coincidindo com o apogeu do mito do "fim da história", que a esquerda latino-americana não vacilou em rechaçar.
O Foro de São Paulo foi o resultado de uma mudança de época: foi a reação da esquerda latino-americana e caribenha que transitava, em parte surpreendida e em parte receosa, do fim de uma época de ditaduras e repressão maciça, em direção ao início de outro momento caracterizado pela completa mistura de incremento e desenvolvimento da luta social, questionamento da atividade política tradicional, especialmente pelos jovens e, pela primeira vez, o reconhecimento institucional dos seus resultados eleitorais.
Durante os primeiros anos de existência do Foro, seus membros acumularam crescentes espaços, mas seus candidatos presidenciais não conseguiam ainda vencer as brutais campanhas de medo promovidas pela grande imprensa, totalmente controlada pelo imperialismo e pela direita, que vaticinavam o isolamento, o colapso econômico e o caos se os povos tentassem libertar-se do insuportável peso do neoliberalismo.
Foi em meio à mais grave crise econômica, política e social até então desencadeada na região que em dezembro de 1998 se produziu a eleição de Hugo Chávez para a Presidência da Venezuela. Logo se seguiram as eleições de Lula, Tabaré, Evo, Daniel e Correa.
Hoje nossos membros fazem parte do governo em treze países latino-americanos e caribenhos e em uma quantidade superior exercem o controle de governos locais e têm representação parlamentar nacional. A estes se soma a recente eleição do presidente Fernando Lugo no Paraguai, que pôs fim a mais de seis décadas de monopólio do poder exercido pelo partido Colorado.
Mas estes êxitos trazem emparelhados novos desafios. Nas atuais condições do mundo, o acesso ao governo não pressupõe o exercício do poder. O novo é que a esquerda latino-americana e caribenha não apenas disputa o poder com o imperialismo e seus representantes nativos a partir da oposição, mas também do governo.
Os êxitos de hoje podem ser reversíveis amanhã e por isso devemos dedicar uma grande parte de nossas energias a defender as conquistas.
A aspiração e a meta é uma América Latina e um Caribe livres de qualquer forma de dominação estrangeira, politicamente unida e integrada econômica e socialmente em benefício pleno dos povos.
Nossa reunião é realizada quando a humanidade atravessa um dos momentos mais difíceis e complexos de sua história: um mundo com profundas injustiças e desigualdades, com guerras e conflitos; que enfrenta uma nova crise econômica, que coincide simultaneamente com uma crise energética, outra de alimentos e com uma grave crise do meio-ambiente.
Na Conferência das Nações Unidas sobre meio-ambiente e desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro há 16 anos, o Companheiro Fidel Castro alertou de modo profético que: "uma importante espécie biológica está em risco de desaparecer por uma rápida e progressiva liquidação de suas condições naturais de vida: o homem". Os anos lhe deram razão.
O governo Bush, apesar das centenas de milhares de mortos e da destruição que as agressões ao Iraque e ao Afeganistão provocaram, continua empenhado em sua política de guerras preventivas, iniciada sob o pretexto da luta contra o terrorismo, quando os verdadeiros e egoístas objetivos são apoderar-se dos recursos naturais do mundo, especialmente o petróleo, e garantir, pela força, sua hegemonia mundial.
As aventuras belicosas dos EUA, seu enorme gasto militar e suas receitas econômicas neoliberais agravaram os desequilíbrios da economia internacional, de que a escalada vertiginosa dos preços do petróleo é um exemplo eloqüente.
Foi imposto ao mundo um modelo econômico depredador que devora os recursos energéticos não renováveis e contamina o planeta. A última expressão dessa política irracional dos governos dos Estados Unidos e Europa é a utilização de alimentos para produzir biocombustíveis, cujas conseqüências são dramáticas com a elevação dos preços dos alimentos e o crescimento da fome em todo o mundo.
A pobreza e a desigualdade não são privilégios da maioria da humanidade que vive nas nações pobres. Também nos exclusivos e excludentes países ricos crescem a pobreza e os conflitos.
Nosso continente é o mais desigual do planeta, no qual mais de 200 milhões de pobres não têm os recursos mais elementares para subsistir enquanto surgem novos centros de consumo com um luxo chocante, demente e suicida. Além disso, o crime e o narcotráfico continuam se fortalecendo na sociedade onde campeiam os assassinatos e os seqüestros.
A intenção do imperialismo norte-americano de impor em nosso continente uma área de livre-comércio fracassou e agora prioriza a assinatura de tratados de livre comércio bilaterais e sub-regionais, para assim impor por outra via seus objetivos e garantir seu domínio.
Como resposta a essa crise profunda, vive-se na região um momento novo de luta e o movimento popular latino-americano alcançou importantes vitórias e avanços.
Graças à iniciativa da Venezuela, desenvolveu-se a alternativa bolivariana para os povos de nossa América.
A Petrosul, a Petrocaribe, a Telesul e o Banco do Sul constituem projetos decisivos para o futuro da nossa região. Estamos convencidos de que este é o caminho e de que nossos países não têm outra alternativa senão a integração econômica.
Em Cuba, mantemos nosso objetivo de estabelecer uma sociedade baseada na solidariedade humana e não no egoísmo e nas ganâncias materiais. Durante os dois últimos anos nosso povo ratificou sua firme vontade de manter e de defender a continuidade da revolução e o socialismo, a partir do exemplo da liderança histórica encabeçada pelos companheiros Fidel e Raul e do papel decisivo do Partido Comunista.
Tal como assinalou o companheiro Raul Castro: "Nesse empenho teremos como meta principal seguir melhorando nosso ainda imperfeito mas justo sistema social, em meio à realidade atual, que sabemos que é extremamente complexa e mutável e, ao que tudo indica, continuará sendo no futuro".
Por esse caminho avançamos apesar do aumento sem precedentes das agressões e da feroz guerra econômica por parte do governo Bush, que já custou mais de 90 bilhões de dólares.
Seguimos avançando também no desenvolvimento da nossa democracia, incentivando o debate e a participação dos cubanos na análise e solução de nossos problemas e deficiências.
Recentemente realizamos eleições locais e gerais, nas quais a revolução recebeu um contundente apoio e convocamos o Congresso do nosso Partido para o final do próximo ano.
Apesar das dificuldades que enfrentamos e das agressões do imperialismo, continuamos a obra internacionalista e Martiana da revolução.
Quase duzentos mil trabalhadores da saúde de nossa pátria salvaram ou curaram milhões de pacientes em vários continentes.
Mais de um milhão de latino-americanos e caribenhos recuperaram a visão graças à Operação Milagre. Três milhões e meio de pessoas aprenderam a ler e escrever com o método cubano "Sim, eu posso".
Estudam atualmente em nosso país mais de trinta mil jovens de 123 países, destes 23.532 cursam a carreira de medicina e há ainda outros 23.127 que se formam médicos junto a nossas brigadas no exterior.
Companheiras e companheiros,
Diante do avanço das forças progressistas e de esquerda, o imperialismo e, evidentemente, seus aliados no continente adotam políticas cada vez mais reacionárias, como a brutal ingerência de Washington para impedir o triunfo das alternativas populares; as fraudes cometidas para despojar a esquerda de seus triunfos eleitorais; as campanhas de medo para desqualificar os candidatos progressistas; a criminalização da luta social e o aumento da repressão.
O governo Bush continua organizando e financiando planos subversivos contra os governos da Venezuela e da Bolívia e mantém sua opressão colonial sobre o povo irmão de Porto Rico.
O governo norte-americano manipula o tema das armas de extermínio em massa, sendo responsável por mais da metade dos gastos militares do mundo e retirou os EUA do Protocolo de Kyoto, apesar de ser responsável pela quarta parte de todos os gases e resíduos tóxicos do planeta; e constitui o primeiro e decisivo apoio aos crimes do governo sionista contra o povo palestino.
Em pleno século 21, o governo Bush, além do campo de concentração em Guantánamo e das prisões e vôos clandestinos, legalizou a tortura, o que constitui um ato de infâmia, sem comparação na história da humanidade.
O governo dos EUA, enquanto proclama falsamente uma guerra ao terrorismo, protege e apóia os piores terroristas do nosso continente, como Luís Posada Carriles e Orlando Bosh, e viola as leis internacionais e sua própria legislação, negando-se a extraditar para a Venezuela o primeiro, enquanto mantém seqüestrados brutal e ilegalmente cinco jovens cubanos, precisamente por lutarem contra o terrorismo e salvarem vidas cubanas e norte-americanas.
Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González e René Gonzalez injustamente cumprem penas de prisão por defender seu povo e outros povos do terrorismo.
Nesta semana apresentamos na televisão provas irrefutáveis da vinculação indecente e direta que existe entre os mais conhecidos grupos terroristas radicados nos EUA, o governo desse país e sua Sessão de Interesses em Havana e personagens da contra-revolução.
Companheiras e companheiros,
Como resposta à ofensiva imperialista na América Latina e no Caribe surgiram e tomaram vulto novas organizações e agrupamentos que incluem tanto movimento sociais como indígenas que compartilham muitos de nossos objetivos e com os quais devemos ser capazes de articular um esforço comum. Estes movimentos adquirem, dia a dia, maior desenvolvimento e maturidade. Junto a eles, nós, os partidos e movimentos políticos de esquerda, devemos marchar unidos.
Em nosso continente, como no resto do mundo, o tema da unidade das forças e setores revolucionários de esquerda e progressistas é decisivo. A divisão continua constituindo um calcanhar de Aquiles e uma debilidade, do que as forças de direita e o imperialismo se aproveitam.
Uma unidade que é fundamental na luta pelo socialismo, um socialismo desenhado e construído pelos nossos próprios povos.
O momento é de luta. Hoje devemos intensificar nossa solidariedade com todos aqueles que combatem e se esforçam por um futuro melhor.
Em primeiro lugar, com o governo de Evo Morales na Bolívia, que sofre uma feroz campanha do imperialismo e da reação local, que exacerba a ameaça de uma fragmentação nacional que afetaria a grande maioria dos bolivianos, sem distinção de classe, raça ou filiação política, assim como tem o intuito de evitar que se oficialize na Bolívia, pela primeira vez, um governo que representa a luta pela avassaladora maioria do povo boliviano que foi excluído, explorado e discriminado por cinco séculos.
Também demandam solidariedade urgente:
A Revolução Bolivariana na Venezuela, para frustrar uma nova onda da campanha desestabilizadora;
O governo de Fernando Lugo que enfrenta uma descomunal tarefa para corresponder às esperanças do povo paraguaio;
A Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional, com o objetivo de neutralizar a ingerência dos EUA na próxima campanha eleitoral em El Salvador e rechaçar qualquer possibilidade de fraude nas eleições de maio de 2009;
O Movimento Independentista Portorriquenho, que este ano travará novas e importantes batalhas no comitê de descolonização e na Assembléia Geral da ONU;
O povo equatoriano frente à agressão e violação de seu território e sua soberania; e tantas outras causas que devemos apoiar.
Como parte do esforço comum para incrementar, ampliar e intensificar a imprescindível coordenação e trabalho conjunto das forças de esquerda do continente, nosso partido decidiu convocar para o mês de janeiro do próximo ano o "Encontro de Partidos e Movimentos Políticos da América Latina e Caribe por motivo do 50º aniversário da Revolução Cubana". Essa será, sem dúvida alguma, a oportunidade para trocar informações sobre o que temos feito, o que estamos fazendo e o que vamos fazer para defender e desenvolver, cada dia mais, nosso projeto socialista; e será também um excelente cenário para refletir e expor critérios sobre quanto e como o mundo, a América Latina e o Caribe mudaram desde 1º de janeiro de 1959, e sobre as conquistas e feitos comuns que hoje temos como esquerda latino-americana e caribenha.
Companheiras e companheiros,
Proximamente será comemorado o aniversário de nascimento do Che. Inspirados em seu heróico exemplo, continuemos sua luta para alcançar, em nosso continente, um mundo melhor baseado na liberdade e toda a justiça.
Viva a Revolução!
Viva o Socialismo!
Até a vitória sempre!
Muito obrigado.
Fonte: Vermelho
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